Caramba, que dom.
De um e de outro.
Fui chamado ao gabinete do director.
Oh diabo...!
Enquanto alternava um pé com o outro, mentalmente revia os últimos dias para saber onde tinha sido a pata na poça.
Entrei no gabinete já com a orelha a jeito.
Saí com o ego a sorrir.
Estava há 20 dias no estágio e tinha ali a porta aberta para os quadros da empresa.
Foi o primeiro-grande elogio.
Ao longo destes anos fui coleccionando mais alguns.
De colegas de profissão mas sobretudo das vítimas das flashadas.
Há mesmo quem ligue a agradecer quando o trabalho é publicado.
Houve um dia que fui fotografar o dono de uma empresa e quando regressei à redacção tinha o editor a perguntar que raio tinha feito ao senhor para ele ter ligado maravilhado com o trabalho.
Pode parecer pouco mas sabe a muito e o lombo agradece.
O último elogio que recebi, disseram-me, foi do Acácio Franco.
É um nome que possivelmente não dirá nada à maior parte dos que por cá passam.
Foi um dos melhores na profissão.
Aos 12 anos, para além de estudar e participar em concursos de fotografia, também tinha de se preocupar em arranjar espaço na estante lá de casa.
Só para terem uma ideia de quem falo, foi ele o último a fotografar Salazar com vida.
Na ambulância, depois do outro ter andado a brincar com a cadeira.
Não está no curriculum de qualquer um.
Há meia-dúzia de anos chefiava aquela que era conhecia como a melhor equipa de fotojornalistas do país.
Por um capricho sacana do destino, nunca cheguei a trabalhar sob as ordens do Acácio.
Tão pouco cheguei a apertar-lhe a mão.
Conheço-lhe o trabalho das horas passadas no arquivo a fazer foward.
E das vezes em que o nome dele vem à baila, ali na secção.
Em todas, sem excepção, arrisco-me a apanhar um torcicolo.
Não sei exactamente o que ele disse do trabalho que viu.
Sei que foi um elogio.
Um elogio do Acácio Franco.
E isso basta.
...e do SBSR, para contar a história, só fica mesmo a Brandi.
[...] Everyone has an agenda. If you like me, that’s super and you might put a great [live] picture up. If you don’t like us, you won’t. I’ve seen people do both. That’s just how it is. So why not only put good [photos] out? That’s my motto.A entrevista foi em Fevereiro mas eu só soube no Restelo.
[...] It’s my photographer doing it, I get to go through them. It makes sense to me, I don’t know why it doesn’t to everyone else.
[...] [As a photographer] there’s things you can do to a person when they’re screaming their guts out and singing their life away on stage.
[...] You can make it look funny. I don’t think that makes me any more vain than the next person because I don’t want people to control me. That’s them being more controlling than me if they want to do that stuff.
Há um asteriscozinho ali no post anterior, certo?
Certo.
...tem uma pessoa ideas brilhantes boas assim-assim coiso e depois é isto.
[Ò menina Vanessa, acha que o GS me roubava a "cliente" com essa facilidade...?!
Não me obrigue a puxar dos galões, sim...?]
Hoje, este blogue faz dois anos... e quatro dias.
Estou claramente no domínio da coisa.
[Apesar do esquecimento, da falta de regularidade nas postagens e de tantas outras coisas que haveria a apontar a este blog[ger], olho ali para o lado e tenho o contador a atirar-se para as duas dezenas de milhares de visitas.
Para quem está aí desse lado, 2 palavrinhas apenas:
MUITO OBRIGADO. ]
Miguel Esteves Cardoso in «J», 21 de Jun. de 2009
Deixem o rapaz em paz
Um clube espanhol paga 94 milhões de euros a um clube inglês por um jogador português. E os portugueses como reagem? Acham que é de mais.
Não percebo. Os espanhóis podem achar que pagaram de mais. E os ingleses e portugueses até podem achar que os espanhóis deveriam ter pago mais.
É assim que as compras e vendas funcionam. Como não fomos nós que comprámos ou vendemos Cristiano Ronaldo porque é que estamos tão perturbados?
A reacção mais saudável é simples: é ficarmos contentes que tenha sido pago tanto dinheiro por um jogador português. E, no entanto, a maioria dos portugueses é incapaz de reagir assim. Alvoraça-se; indigna-se; fala no apocalipse e, de um modo geral, diz que, desta vez, se foi longe de mais.
Reage sempre assim. Sempre que um jogador é vendido por mais de dois vinténs anuncia o declínio e a queda do império do futebol.
Porque será? Há uma razão crónica e uma razão pontual. A crónica é compararmos o que ganha Cristiano Ronaldo para fazer aquilo que ele gosta (jogar à bola) com aquilo que nós ganhamos para fazer aquilo que só fazemos porque temos de ganhar algum.
Não é inveja: é pior do que isso. Inveja seria ganharmos tanto como ele. É uma amargura de arrastamento: queremos é que ele ganhe tanto como nós. Há casos extremos, que todos já ouvimos, em que portugueses normais dizem que os futebolistas, por muito bons que fossem, não deveriam receber mais do que um salário médio. Até há radicais que insistem que deveriam ser amadores e praticar o futebol nas horas vagas. Como antigamente, quando o futebol era puro e estavam sempre 20 pessoas a correr atrás da bola - isto quando os guarda-redes estavam a descansar nas balizas.
Com a inveja ainda se pode lidar. Mas esta amargura crónica não tem remédio. Só com uma ditadura comunista, no estilo da Coreia do Norte. Embora, neste vertiginoso momento dos 94 milhões, haja, com certeza, quem estivesse disposto a aturá-la, só para ter a satisfação de ver a cara do Cristiano quando soubesse que afinal não ia receber dinheiro nenhum - antes uma convocatória para ir à tropa.
A razão pontual do alvoroço é o próprio Cristiano Ronaldo. Há muita gente que antipatiza com ele. Porquê? Porque acha que é melhor e mais esperto do que os outros? Mas ele até é. É um realista. É um dos poucos casos em que qualquer arrogância ou vaidade se justifica.
Mas, mesmo que ele não fosse tão bom como julga, ele teria de julgar que é, para poder jogar o melhor que pudesse. A auto-estima é um factor essencial no rendimento dos jogadores e não é fácil de criar e manter. Porque é que perdoamos esta mania das grandezas em futebolistas inferiores a Cristiano Ronaldo mas, nele, achamos que assenta mal?
A explicação mais generosa é que achamos que que os jogadores excepcionalmente talentosos são tão bons que até se podem dar ao luxo de serem humildes. É um erro técnico e humano com dimensões monumentais. Não estamos em Hollywood. Cristiano Ronaldo não é o Rain Man.
Pela parte que me toca, fiquei felicíssimo com a notícia. Acho que toda a gente ficou a ganhar. O United aproveitou muito bem Cristiano Ronaldo, durante muito tempo, e agora ganhou muito bem com a venda dele. O Real Madrid pagou o que tinha que pagar mas ficou com o melhor jogador do mundo. Cristiano Ronaldo, depois da tremenda vitória pessoal em Manchester e em Inglaterra, vai agora enfrentar o Real Madrid e a Espanha.
Também já deve estar farto do clima e da comida de Manchester. Em Madrid o clima também não é agradável mas sempre se come melhor. E fica mais perto de Portugal.
Se é que o deixamos entrar depois de ter feito tal arromba nos cofres do Real Madrid - clube tão pobrezinho e tão querido aos nossos corações que até nos custa quando o enganam no troco de um cacau com churros.
...não fosse de direita.