Detesto transpirar.
Uma coisa é ter uns adidas nos pés, correr 2 horas atrás de uma bola e depois ir ao duche.
Outra completamente diferente é estar de sapatinhos vela, carregar caixas debaixo do Sol das 4 da tarde e só voltar a ver o cortinado da banheira às 10 da noite.
Subo a Calçada do Correio Velho e penso na culpa de quem me meteu nisto.
Maria Amélia. Era para quem eu apontava se tivesse o indicador livre.
A Maria Amélia foi a minha professora da 3ªclasse.
Numa das primeiras aulas falou-nos de crianças que passavam fome em África.
O tpc desse dia foi mostrar uma lista em casa e levar para a escola aquilo que os pais pudessem dar.
Foi assim que na manhã seguinte, lá fui de mochila às costas e na mão direita, o saco com enlatados que a minha mãe deu.
Na esquerda, os enlatados que a minha mãe também deu mas sem saber.
Agora, em vez da mochila é o nowbomb, e em vez de enlatados são VHS's de filmes animados.
Também foram brinquedos, livros, t-shirts, bonés e mais umas quantas coisas.
Andei umas semanas em cargas e descargas.
Gastei umas horas do meu tempo e umas valentes calorias na forma - lá está - da malfadada transpiração.
Mas entre sacos, caixas e caixotes não fiquei com a carteira muito mais magra.
Andei a pedir aqui, ali e acolá.
E encontrei algumas pessoas que foram sensíveis a este projecto de ajuda a São Tomé pela mão da associação de que faço parte.
Não
Isso até ouvir o agradecimento sincero e emocionado, por uns pacotes de arroz e meia-dúzia de outras coisas.
Comove-nos até à alma. E um pouco mais além.
Não é difícil imaginar o nível de pobreza que por ali anda.
É uma zona onde para além de faltar tudo, falta ainda o resto.
E lá no meio, pessoas que abdicam da sua vida para a dedicar a outros.
Acho impressionante.
Pode haver atitude mais nobre. Assim de repente, não me lembro de nenhuma.
Penso nisso e fico com o meu metro e oitenta a rasar o chão.
E afinal, o corpo melado por umas horas talvez até seja suportável.
Talvez...
Não escrevi este post para me confortarem as costas.
Apesar de achar as vossas palmadinhas de alta qualidade.
Lembrei-me de vir para aqui com este assunto porque no envio de produtos para São Tomé, há sempre 2 dramas.
O primeiro é o custo que o transporte de um contentor ali para a linha do Equador acarreta.
Como devem imaginar, não serão propriamente 20 tostões.
O segundo, é o custo que é, para se conseguir encher o próprio contentor de forma a rentabilizá-lo ao máximo.
É esse o propósito do post.
Na próxima iniciativa, angariar produtos - alimentares e não-alimentares - para encher um daqueles paralelepípedos.
Este blogue tem várias dezenas de visitantes diários.
Acho que se pode fazer uma coisa em grande.
E assim, em bonito.
Quanto maior for o sucesso da iniciativa, mais trabalho, organização e logística será preciso.
Mas eu estou disposto a isso.
E tu?
P.S.: ...e alguns dos meus visitantes que têm blogues com centenas de visitas?!
E os meus trezentos e tal seguidores no Twitter?!
Repito-me.
Pode ser em grande.
E principalmente, em bonito.
*A convocatória, ou em como este blogue não é só palhaçada