Ao lado das minhas iniciais, "Filomena A.".
Viro-me para o S..
- Quem é a Filomena A.?
- A Filomena A. é a melhor profissional deste jornal.
Engulo em seco.
De seguida faço o óbvio.
Ponho a barriga para dentro e o peito para fora.
E mentalmente começo a ensaiar a continência.
Alguns minutos depois aparece um "Bom dia!".
Mas não um "Bom dia!" qualquer.
Um "Bom dia!" de quem alimenta as cordas vocais a potes de mel.
E logo atrás, um sorriso gigante.
Não me perguntem como, mas tudo misturado na dose certa.*
Foi assim há quase cinco anos.
Cinco anos.
Mas chamo pela memória e ela vem a correr.
E num instante, desbobina as principais cenas com uma protagonista chamada Filomena A.
E recordo de como "Filomena" diminuiu para "Filó", em meia dúzia de flashes.
E dos múltiplos serviços em conjunto, sempre com sorrisos fáceis.
Também de sorrisos difíceis que a vida não é nenhuma pêra doce.
Do medo de levantar voo e da minha mão na dela, na Portela e em Orly.
E de quando conheci a princesa Inês e todas as paredes do palácio encantado.
Das
E todos os outros passos que levaram a uma amizade, sempre escrita em caixa alta.
Hoje, passados quase cinco anos, as promessas de amigos para sempre são cumpridas sempre que nos vemos.
Sempre.
Seja em apenas dois beijos.
Seja num abraço apertado que desafia a lei da gravidade.
Seja no pretexto de ter de ingerir cafeína, para em cima de um cappuccino ou de um simples café, trocar confidências com a tranquilidade com que outros trocam trivialidades.
E no regresso [percebo agora], uma mão enfiada no bolso e outra naquele ombro direito.
Num gesto que tem tanto de espontâneo como de inconsciente.
Consequência - de certeza - do privilégio de poder ter, aqui no meu lado esquerdo, a verdadeira Special one.
*É receita de família que a Inês é tal e qual a mãe.