terça-feira, 25 de novembro de 2008
...e as Mulheres como as Fotografias
Era um puto quando fiz o meu primeiro curso de Fotografia.
Um puto mas já sabia uma ou duas coisas da vida.
De Fotografia, três ou quatro.
Num curso básico, isso são logo dois passos à frente.
[Quatro, se se calçar o 40.]
Mas já nessa altura, era amigo da ideia que nunca se sabe tudo e há sempre espaço para mais qualquer coisa.
Confirmei-o na primeira aula de laboratório.
"Revelação de película e provas em papel".
No processo de lavagem, dois colegas partilhavam a febre do "Jurassic Park".
E pegavam nas fotografias com a gentileza de um T-Rex.
Não é que fosse sair dali o próximo Pulitzer mas aquilo estava a mexer-me com os nervos.
Também mexeu com os do professor:
-É pá! As fotografias têm de ser tratadas como as mulheres!
Dito com ênfase em cada sílaba.
Chamem-me mariquinhas, mas nunca vi tanta poesia num puxão de orelhas.
Foi daqueles momentos que mereciam uma moldura.

Foi nesse curso que comecei a aprender a olhar para uma Fotografia.
Primeiro na ponta dos dedos.
Depois na palma de uma mão.
E de duas, se fosse preciso.

Vem isto a propósito da vista de olhos que dou pelo Público.
Uma dupla página sobre violência doméstica.
23.427 queixas, leio.
Por momentos interrogo-me se o José Manuel Fernandes não andará a dar notícias do século passado.
Parece que não.
Parece é que há coisas que eu nunca vou conseguir perceber.
Nem mesmo explicadas com uma Fotografia.



[Dia internacional para a eliminação da violência contra as Mulheres]



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Via jugular
 
Posted by Sávio Fernandes @ 16:06 ¤
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