De cada vez que olho para o calendário, a mesma certeza absoluta.
O tempo tem asas e bate-as como se não houvesse amanhã.
Parece que foi ontem que me perguntaram se queria ser sócio. E eu que sim, sem pestanejar. A Maria E. a perguntar-me se conhecia a zona dos Olivais e o Manel a explicar-me o caminho melhor que qualquer Tom Tom.
Parece que foi ontem mas já lá vão três anos.
Três anos de uma colaboração modesta mas que ainda assim teima em atestar-me a alegria.
A Associação Auxílio e Amizade nasceu oficialmente há sete anos.
Foi consequência da vontade de pessoas que deixam o umbigo num canto, arregaçam as mangas e estendem os braços a quem está no andar debaixo da vida.
Dar a mão a quem mais precisa, nesta altura do ano, é bonito e fica bem.
Fazê-lo 366 dias por ano - mesmo em anos não bissextos - não será para todos.
Eu, confesso, ainda estou a apanhar o queixo e a tirar apontamentos.
Dar algum do meu tempo e pequenos nadas é muito pouco.
E quando me debruço sobre isso, ainda me sabe a menos.
Teimo que fotojornalismo tem de rimar com solidariedade mas a verdade é que raramente ganho a luta contra os ponteiros. E uma carteira gorda nunca passará para o lado de lá da utopia.
Resta apenas a vontade.
À falta de melhor, é ela que levo nas visitas que são feitas.
Aí, vêem-se realidades difíceis e ouvem-se percursos complicados.
Para quem usa o calcanhar de Aquiles no lado esquerdo, um nó na garganta fica apenas a um passo.
Mas é nessa altura que se puxa por uma palavra de incentivo.
Uma que tenha força para desatar nós.
Os de lá e os de cá também.
Não é tarefa fácil mas vai acontecendo algumas vezes.
Em muitos casos percebe-se que um simples dedo no ar é suficiente para abrir sorrisos.
Em outros, só lá se chega quando se abrem os braços.
É que não há nada que um abraço apertado e sentido não consiga minorar.
Felizmente, nada.
[Voluntários da AAA - Dez. '07]