terça-feira, 4 de dezembro de 2007
O melhor do mundo
[Imagino que pelo título do post, uns e outros estarão já a pensar que as linhas que se seguem serão sobre o Mourinho. Afinal de contas, nos dias de hoje, "o melhor do mundo" ainda rima com "special one".
Mas não por estas bandas. E definitivamente, não neste post.

O melhor do mundo são as crianças, alguém escreveu.
Eu assino por baixo.]

Reentro ali. Naquele espaço que já me é tão familiar.
Os reduzidos metros quadrados são inversamente proporcionais à quantidade de calor. [Sim, o humano.]
Pelo meio, alguns petizes rodeiam a Leonor. As mãos dela brincam às escondidas. Os olhos deles, à apanhada.
Eu sento-me.
O cansaço teima em medir forças comigo. Eu teimo em não o deixar levar a melhor.
Às vezes é difícil, confesso.
A ficha de inscrição apoia-me o colo e eu agradeço.
Olho para ela mas não a vejo. Talvez por estar ali sem estar.
Penso nos dias seguintes. Penso sobretudo no hoje.
Há dias que são mais pesados que outros. Acontece.

De lá, do lugar onde estou, regresso ao som de "SÁÁÁÁÁÁVIIIO", ao mesmo tempo que uns braços pequenos lançam-se ao encontro do meu pescoço. Assim mesmo, sem aviso. São do Bernardo.
Noutro repente, agora vindos da direita, aparecem os bracinhos do João. E apertam-me, também. E tão bem.
Quando reabro os olhos, vejo o Diogo. A meio metro. Parado, só a olhar. Tem aquela expressão que todos os miúdos têm quando não sabem muito bem o que fazer.

[Eu nunca tive oportunidade de falar muito com o Diogo. Tão pouco de jogar à bola ou de o apertar junto ao peito.]

Só tenho dois braços, é verdade. Mas são grandes. É claro que há espaço para o Diogo.

"Há espaço para ti, Diogo!"
O Diogo abre o sorriso e os braços também. E juntam-se ao aperto.

[Interrogo-me, agora. Terás sido tu, Leonor? Terá sido o teu indicador a virar-se para mim ao mesmo tempo que a tua voz sussurrava-lhes o meu nome, enquanto eu estava ali sem estar?
Sim, tu, porque és bem capaz de tal coisa que eu sei.
Mas, ainda que tenhas sido tu, viste AQUELE abraço?!
Viste que eles não me desapertavam?]

Um abraço a seis mãos.
Com sinceridade escrito em cada uma das letra.
Não sei quanto tempo durou mas acho que um qualquer recorde mundial foi abaixo. Na intensidade, de certeza.
Onde é que aquelas criaturas tão pequenas foram buscar tanta força?
No lado esquerdo, certamente. E directamente do fundo.
Porque me envolveu até à Alma.
E tornou o meu dia mais leve.


[O melhor do mundo são as crianças
in "Liberdade", Fernando Pessoa]
 
Posted by Sávio Fernandes @ 22:32 ¤
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