terça-feira, 18 de março de 2008
Não me arrependo, não senhor.


[Chamem-me esquisito.
Ou mesmo, anormal.
Mas há dois tipos de pessoas que, por vezes, me incomodam.
As mal-educadas e as Estúpidas.
E o "e" é maiúsculo porque devia ser nome próprio.
Se em relação às primeiras até chego a dar algum desconto, já em relação às segundas, apetece-me cobrar tudo. E com juros.]

Depois do vigésimo oitavo bocejo do dia [noite], chego ao número 14, da Rua da Misericórdia.
[Misericórdia que é o que a chefia devia ter tido que 5 serviços num dia é de dar dó.]
Uns músculos empurram os outros e todos choram desalmadamente pelo meu colchão.
Indiferente a esse fado, a música vai alta.
Toca no sexto andar, na festa do "Hugo Boss".
Depois de uma hora à porta, a D. Manuela [ou seria, Mariana...? Bom, não interessa] decide que afinal a imprensa é bem-vinda.
As máquinas fotográficas é que não.
Convidam-nos para dar uma vista de olhos e para um copo.
Aceito metade do convite e deixo os copos para quando fizer o check out do jornal.
Numa vez sem exemplo, Canon e Companhia Lda. ficam entregues na recepção.
Subo as escadas seguindo o som das batidas [des]compassadas.
O espaço parece interessante.
"Parece", porque com luz suficiente para se ver 1/4 de palmo à frente do nariz, é difícil ter a certeza do que quer que seja.
Vou para o terraço fazer um 2 em 1: ver a vista e apanhar ar.
Pelo caminho apanho também um grupo que me olha de cima para baixo e de baixo para cima.
Ao contrário deles, eu não vim com a melhor fatiota.
Indiferente, regalo a vista com Lisboa by night.
Olhar uma cidade de um ponto alto, e principalmente à noite, é qualquer coisa de fantástico.
Num instante, percorro a capital quase de ponta a ponta.
Atravesso a 25 de Abril e perco-me depois de Cacilhas e antes de Almada.
Resolvo voltar para Lisboa e para o interior daquele 6º andar.
Passo novamente pelo mesmo grupinho animado, e quando já estou de costas, um deles abre a boca e, digamos que, não saiu uma coisa boa.
Eu páro.
E exactamente ali, passa por mim, aquela fracção de segundo em que temos de decidir a melhor atitude a tomar.
Eu dou meia-volta e vou ter com ele.
Há uma troca de palavras. Quando dou por mim, temos as cabeças encostadas.
Ele aperta-me o cachecol. Eu agarro-lhe o colarinho.
Quem está por perto, intervém e separa-nos.
Pelo meio, mais uma troca, desta vez de palavrões.
Quando os ânimos pareciam serenados, ele atinge-me com um soco no rim esquerdo.
Instintivamente, os anos de karaté vêm ao de cima.
Sem pensar, levanto a perna e o pontapé vai de encontro ao nariz dele.
Ainda me lembro de o ver a levar as mãos à cara.
Também me lembro de me virar e ver um dos amigos dele a vir na minha direcção, com uma garrafa.
Quando acordei, lembro-me de ter pensado que tudo isto poderia, de facto, ter acontecido.
Mas, naquela fracção de segundo - a tal em que temos de decidir a melhor atitude a tomar - eu dei meia-volta, e a única coisa que foi ter com ele, foi o olhar.
Só.
Não por cobardia ou qualquer outro receio.
Apenas porque as coisas só têm a importância que nós lhes damos.
De há muito tempo a esta parte, as opiniões a que dou importância são as que vêm das pessoas por quem eu tenho consideração e de quem eu gosto.
Para asneiras em formato de disparate, ainda que com algum esforço, chuto para canto.

Quanto à "indumentária", ela não varia quando vou a São Bento ou a Belém.
Seria no mínimo ridículo, fazê-lo para uma ocasião que é, digamos, incomparavelmente menos importante. [Hã, viram como eu consigo ser politicamente correcto?]

Aproveitando que veio à baila as opções do meu estilista - que por mera coincidência, até sou eu -, sobre a pertinente questão "Mas porque é que andas sempre de preto?!", digo que essa e outras respostas serão dadas num dos próximos posts.
Este já vai longo.
Portanto já sabem, "não saiam dos vossos lugares!".
[...a menos que queiram fazer um chichizinho, vá.]
 
Posted by Sávio Fernandes @ 13:55 ¤
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